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segunda-feira, 5 de julho de 2021

“É muito importante ver a Justiça Eleitoral baiana acolhendo a diversidade”, afirma servidor

Servidor do TRE-BA há 24 anos, o agente de polícia judicial Eli Teixeira Barbosa defende a naturalização de temas como orientação sexual e identidade de gênero para a conquista de uma sociedade mais plural


Nas comemorações do Orgulho LGBTQIA+, o agente da Seção de Segurança Institucional (SEGIN) do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA) Eli Teixeira Barbosa afirma que o seu ativismo não se limita a uma bandeira, mas muitas. Para ele, militar é resistir à homofobia, ao machismo, ao racismo e a toda forma de opressão e desrespeito às pessoas, seja pela orientação sexual, identidade de gênero, raça ou condição socioeconômica. Servidor do TRE-BA em uma área ainda marcada pela heteronormatividade, Eli vê na naturalização desse tema uma das formas mais efetivas de combater o preconceito e ampliar a consciência das pessoas. Ainda assim, sabe que haverá quem não alcance esse entendimento e tudo bem, desde que haja respeito. Nesta entrevista, o agente fala sobre desafios e conquistas de ser homem gay na sociedade baiana e dos avanços do Regional na abordagem e discussão de pautas como a diversidade.

TRE-BA – Que desafios e conquistas você destacaria como LGBTQIA + na sociedade em geral e na Justiça Eleitoral, em particular?

ELI TEIXEIRA BARBOSA – Apesar de o país ter visto a ascensão ao poder de quem é declaradamente homofóbico, nossas conquistas são inúmeras e a gente está evoluindo muito, a causa ganhou uma publicização muito grande. É claro que você vai ter bolsões de resistência e esse processo é assim na história. A primeira mulher que usou um maiô foi criticada pelo papa e, hoje, isso é natural. O primeiro beijo gay na televisão foi uma confusão, um tumulto e, hoje, é natural. Os desafios continuam nessa linha, de ter uma maior naturalização e de considerar a coisa como um tema a ser falado. A gente acabou de ver o governador do Rio Grande do Sul se assumindo gay [Em entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, na quinta-feira (1º/07), Eduardo Leite afirmou: "Eu sou gay e sou um governador gay. Não sou um gay governador, tanto quanto Obama nos EUA não foi um negro presidente. Foi um presidente negro. E tenho orgulho disso"]. Era uma coisa que as pessoas já sabiam, mas que ganha outro sentido quando ele assume, quando ele se coloca. Isso para a sociedade é interessante de ser posto, mesmo sabendo que vai ter discriminação, faz parte do processo de crescimento, que nunca vai ser linear nem tão tranquilo. Os desafios são esses, de ter esse tema divulgado e debatido na sociedade e eu acho que tem galgado espaço. Vimos na semana do Orgulho LGBTQIA+ muitas prefeituras e grandes empresas usando a bandeira do arco-íris e se colocando em apoio ao tema. Vejo os desafios e conquistas na mesma linha, de aceitação, para atingir a igualdade. Em relação à Justiça Eleitoral da Bahia, não vejo que isso seja um problema, o TRE-BA já teve diversos gestores gays, é algo que não interfere na carreira das pessoas e também percebo como uma escolha de cada um de querer colocar isso como tema ou não. Vejo como algo cada vez mais naturalizado na Justiça Eleitoral.

TRE-BA Você faz parte de um dos setores no qual o estereótipo ainda é notadamente machista e homofóbico. Como lida com isso?

ELI TEIXEIRA BARBOSA – A área de segurança é realmente muito estereotipada, isso ocorre, e não é que eu não encontre preconceito, você vai ver isso, mas eu não sou um cara que carrego esse único tema. Eu vou falar dos temas que estão aí para serem discutidos, e quando vem o tema da homossexualidade, a gente discute, sem problema. Não que eu tenha que provocar esses assuntos sempre ou andar com a bandeira do arco-íris, essa não é muito minha prática. Acho que a gente tem que ser um ser integral e o tema da sexualidade não é o único da minha vida. É óbvio que é muito importante se posicionar, mas respeitando o tempo de cada um, o jeito de cada um. É uma coisa muito pessoal para dizer que todo mundo tem que se colocar e isso vem com o tempo. Claro que a gente precisa lutar, combater o preconceito, mas acho que não vamos conseguir mudar a cabeça de muita gente. Eu tenho colegas que têm preconceito, mas que me respeitam muito. O fato de ser agente de polícia judicial me coloca em um certo ar de conforto quando você se impõe para a sociedade. Eu nunca vi ninguém comentar mal ou fazer piadinhas, internamente até tem, mas com o público externo, não. Nas pessoas para quem eu conto, porque trabalho junto, vejo até uma certa admiração: "Poxa, é mesmo? Ah, não parece". Não que isso seja um elogio, mas eles ainda não perceberam que cada um é do seu jeito, que somos todos pessoas.

TRE-BA – O que falta para a Justiça Eleitoral ser mais plural e diversa?

ELI TEIXEIRA BARBOSA – Acho que investir ainda mais em uma comunicação que trate desses temas, que enfatize essas datas, que faça a Justiça Eleitoral se posicionar ao lado dessas pessoas. É muito importante ver a Justiça Eleitoral acolhendo a diversidade.

TRE-BA– Pode nos contar um pouco sobre o seu ativismo para garantir que suas relações no trabalho e fora dele sejam marcadas por respeito?

ELI TEIXEIRA BARBOSA – Olhe, eu não me considero ativista, o que eu sempre fiz no Tribunal foi falar sobre isso de forma natural. Meus amigos sabem disso, quem trabalha comigo sabe disso, meus colegas de faculdade sabem disso, eu procuro tratar o tema da forma mais natural possível e, quando instado e perguntado sobre alguma coisa, coloco naturalmente. Da mesma forma que sou contra o preconceito em relação aos gays, sou em relação aos pobres, aos negros, contra as pessoas que não têm acesso à educação formal. São várias bandeiras e eu me comporto da mesma forma. Do mesmo jeito que eu combato a homofobia, eu me coloco contra toda a opressão a grupos minoritários, e aqui eu falo minoritário no que diz respeito ao poder. Se o ativismo for me colocar sempre de forma natural, tudo bem, e isso foi construído no meu tempo, sempre com conversa, com diálogo. E eu sei que, ainda assim, haverá pessoas que não vão gostar, e tranquilo, desde que mantenham o respeito. Eu acho que meu ativismo é mais amplo, é mais no que diz respeito aos direitos humanos.

TRE-BA – Importante pontuar que cada um pode achar o que quiser, desde que isso não interfira no direito do outro.

ELI TEIXEIRA BARBOSA – Essa questão de você se impor e adquirir respeito, tem pessoas que vão lhe respeitar por isso e tem pessoas que vão lhe respeitar por outras coisas. O fato de você ser um servidor público federal, de ter uma carreira, você coloca outros elementos que fazem com que as pessoas respeitem. Eu acho até que dei sorte, porque as pessoas conversam comigo e veem que eu sempre ajo de forma muito tranquila e, quando acontece de alguém tentar me diminuir de alguma forma, vou por outros pontos e procuro me impor. Mas eu acho que a imposição é construída de acordo com o conjunto do que se tem. O fato de você se impor explorando outros temas também me parece assegurar mais respeito. No meu local de trabalho eu sou respeitado por ser gay, mas também por ser um profissional qualificado para estar fazendo o que eu estou fazendo, e isso independe de ser gay. Mais uma vez eu digo que tem pessoas que não gostam, mas fazer o que, né? Paciência. Eu sigo naturalizando isso, tratando o tema sem ter que esconder, sem que pareça que é algo proibido. E, ao mesmo tempo, tratando outros temas, o tema de todos os dias não tem que ser apenas esse. Eu venho fazendo dessa forma, levando conhecimento, conversando com as pessoas. E as pessoas que eu gosto, eu gosto, quem eu não gosto, paciência. Não tem como agradar todo mundo e, mais uma vez, reforço, acho que as pessoas têm o direito de não gostar, mas têm que respeitar.

Entrevistadora: Carla Bittencourt

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